sexta-feira, 13 de abril de 2012

PMs mantêm Operação Padrão

Em assembleia realizada ontem, cerca de 4 mil PMs ignoram orientação das entidades de classe e do comandante da corporação e optam pela continuidade dos atrasos no atendimento das ocorrências

Depois da decisão de continuar com a Operação Padrão no DF, policiais militares reunidos em frente ao Palácio do Buriti gritaram, em coro, "tartaruga, tartaruga"
Os policiais militares ignoraram a orientação das lideranças de associações e decidiram manter a Operação Tartaruga. Em assembleia geral realizada ontem, em frente ao Palácio do Buriti, os 4 mil praças e oficiais presentes votaram pela continuidade do protesto, que consiste em atrasar o atendimento de ocorrências. Os presidentes das entidades representativas tentaram convencer os colegas de farda a abortar o movimento, mas acabaram não atendidos. A mobilização tem comprometido ainda as investigações de crimes no Distrito Federal. O Correio apurou que em várias ocasiões os PMs deixaram, por exemplo, de preservar os locais de assassinatos. ...

A expectativa do GDF, do Comando da PM e da sociedade era que os policiais voltassem hoje ao trabalho normal. Na última quarta-feira, a cúpula do governo costurou um acordo com os chefes das principais associações. O GDF prometeu estudar a pauta de reivindicações da categoria e, em contrapartida, os cerca de 15 mil servidores encerrariam o movimento. Uma nota escrita pelas duas partes chegou a ser divulgada.

Constrangidos com o resultado inesperado da assembleia, os líderes do movimento anunciaram a suspensão do protesto pelo menos até o próxima encontro da categoria, marcado para 11 de maio. A ideia é, nesse período, estudar como será conduzida a restruturação da carreira de policial militar, principal reivindicação da classe. Enquanto uma das coordenadoras do Movimento Unificado sargento Angélica Machado concedia entrevista garantindo a produtividade em dobro para reduzir os índices de violência na capital, uma multidão entoava o coro de “tartaruga, tartaruga”.

O presidente da Associação dos Oficiais Aposentados da PM (Asor), coronel Manoel Brambilla, respeita a decisão soberana da assembleia, mas ressalta que, a partir de agora, cada um será responsável pelos seus atos. “Respeitamos a opinião de quem quer manter essa operação, mas espero que essas pessoas assumam as suas responsabilidades”, destacou.

O comandante-geral da PM, coronel Suamy Santana, acredita que os seus subordinados não vão descumprir o pacto firmado entre ele e as associações. O chefe da corporação disse que não vai tolerar atitudes que coloquem em risco a população de Brasília. “Reconheço todas as lutas e os interesses, mas conseguimos um acordo e tenho absoluta certeza de que ele será cumprido. Se uma minoria insistir em boicotar o trabalho dos demais, responderá administrativamente e penalmente, pois não aceitaremos insubordinação na tropa. Tenho plena confiança nos meus homens e mulheres e acredito que algo dessa natureza não vai acontecer”, disse Suamy, que assume oficialmente o cargo hoje.

Provas perdidas

A Operação Tartaruga, além de colocar a segurança dos moradores do DF em risco, tem prejudicado as investigações de crimes violentos. Vários delegados e agentes da Polícia Civil do DF relataram ao Correio que PMs deixaram de preservar os locais de homicídio. Pelo Código Processual Penal, a autoridade policial, constituída na figura do delegado, é quem deve determinar o isolamento da área a ser periciada. Porém, devido ao baixo efetivo da Polícia Civil, são os militares que fazem esse trabalho, pois, normalmente, chegam primeiro ao local do delito.

Em 18 de março, no auge da Operação Tartaruga, uma mulher morreu assassinada e teve o corpo abandonado dentro de um bueiro, em Brazlândia. Os PMs lotados na cidade verificaram o óbito e deixaram o local. A situação ficou exposta por mais de 40 minutos até a chegada de agentes da 18ª Delegacia de Polícia. Nesse período, vários curiosos se aglomeraram em volta do cadáver. E os peritos tiveram dificuldade para colher provas.

Na última quarta-feira, em Samambaia, a cena de uma execução também não foi preservada. Um policial da 32ª DP (Samambaia Sul) contou que, desde o início do protesto dos PMs, a cena tornou-se comum. “Quando a perícia chega, encontra tudo diferente. Para a gente que trabalha com investigação, é péssimo.” O mesmo ocorreu no Itapoã, há cerca de 10 dias. Para manter a cena de um homicídio intocada, o delegado plantonista deslocou três agentes. “O resultado foi que a fila no balcão da delegacia ficou enorme”, reclamou um servidor.

O diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Luiz Xavier, confirmou ter recebido reclamações de delegados. Acrescentou que pretende discutir o problema com a Secretaria de Segurança Pública. “Tenho conhecimento que isso esteja ocorrendo, mas é algo que deve ser discutido com o secretário (de Segurança)”, ponderou Xavier.

700 agentes em Operação Padrão
O Sindicato dos Atendentes de Reintegração Social anunciou ontem o início de uma operação padrão nos centros de internação de jovens infratores. A entidade afirma que suspendeu o atendimento aos adolescentes em atividades que não tenham o número mínimo de um agente para cada cinco internos. Eles calculam que seria necessário contratar 200 servidores para suprir a falta em todos os centros de reintegração social do DF. O movimento, segundo representantes do sindicato, deve afetar o ritmo de aulas, de atividades culturais e do atendimento psicopedagógico dos jovens atendidos pelo Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), pelo Centro de Internação de Adolescentes Granja das Oliveiras (Ciago) e pelo Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (Ciap). Ao todo, 700 agentes teriam aderido à operação. A Secretaria da Criança informou, por meio da assessoria de imprensa, que não foi comunicada oficialmente sobre a operação padrão e que as atividades estão sendo realizadas normalmente nas três unidades de internação.
Por Saulo Araújo

Fonte: Jornal Correio Braziliense - 13/04/2012 / Blog do Sombra

 

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