segunda-feira, 8 de abril de 2013

MAIS PARDAIS, MENOS MORTES


Aumento de radares e da fiscalização ostensiva reduziu, no ano passado, em 44,9% o número de fatalidades nas seis principais rodovias distritais. Apesar do resultado positivo, especialistas cobram investimentos em educação
Pelo menos 67 vidas foram poupadas nas seis principais rodovias distritais em 2012 na comparação com 2011. A redução no período analisado é de 44,9%. Esse resultado desmonta as críticas de motoristas ao aumento de pardais naquelas vias. Antes de fomentarem a suposta indústria das multas — na visão de parte dos condutores — , os equipamentos se revelaram como um forte inibidor dos acidentes fatais, como revela o levantamento do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) a que o Correio teve acesso com exclusividade.
O número de mortos e de acidentes fatais nas principais DF’s é o menor desde 2010. Os acidentes fatais também caíram. O índice ficou 25,3% menor, com 80 registros no último ano e 107 ao longo de 2011. Os dados são relativos a acidentes e mortes ocorridas nas rodovias Estrada Parque Contorno (EPTC), Eixão, Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB), Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e Estrada Parque Ceilândia (EPTC/Estrutural) (veja quadro).
Além do monitoramento por agentes de trânsito, o DER encheu as pistas de radares. A criação das faixas exclusivas para os ônibus, táxis e transporte escolar contribuiu para o incremento da fiscalização ostensiva, com veículos e agentes do Departamento de Estradas de Rodagem ao longo da EPTG e da EPNB o que, consequentemente, inibiu o desrespeito nas pistas.
Morador de Taguatinga, o servidor público Fernando Lopes de Oliveira, 45 anos, pega a EPTG duas vezes ao dia, para ir e voltar do trabalho. Na opinião dele, os equipamentos de controle de velocidade são “um mecanismo meramente arrecadador para abastecer os cofres do governo”. Fernando critica o DER devido à instalação de 50 equipamentos nos 12,5km da EPTG, média de um a cada 800 metros. Nem mesmo a notícia da redução de 53,8% das mortes no local o faz mudar de ideia. “Acho um absurdo. Isso é pegadinha para o motorista. O governo deveria investir em educação. Mas o dinheiro arrecadado com essas multas é que deveria ter essa destinação. A gente não vê resultado”, diz.
Sinalização
No caso da EPTG, o órgão que administra a via também investiu na engenharia, sinalizando a estrada construída ao custo de R$ 306 milhões, mas que foi entregue inacabada à população com diversas falhas. Engenharia, fiscalização e educação são o tripé apontado por especialistas em trânsito para reduzir drasticamente as fatalidades no asfalto. No caso do DF, o dinheiro investido em campanhas educativas é irrisório, contrariando o Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

Se a educação para o trânsito fica apenas na letra fria da lei, o peso da multa no orçamento fez a comerciante Renata Cruz e Souza, 24 anos, mudar o comportamento no Eixão. Desde o ano passado, o número de pardais na pista saltou de 23 para 31. “Ficou um horror dirigir no Eixão. Antes, corria e reduzia no ponto de fiscalização. Agora, nem compensa porque você mal acelera e já tem que frear de novo”, ressalta Renata, moradora de Sobradinho.
A decisão de ampliar os pontos fiscalizados por radar ocorreu devido a acidentes graves ocorridos no local ao longo de 2011. Além dos equipamentos eletrônicos, o DER manteve, por um tempo, viaturas da fiscalização em todo o trecho. Diferentemente das outras rodovias analisadas, o Eixão teve a menor redução de mortes: foram nove, em 2011, e sete, no ano passado, queda de 12,5%.
Superintendente de Trânsito do DER, Murilo de Melo Santos ressalta que, em 2012, foram desencadeadas diversas ações com foco na redução de acidentes fatais. Ele cita o arrocho na fiscalização eletrônica e nas abordagens em campanhas educativas; investimento em engenharia com destaque para a aplicação de R$ 10 milhões em sinalização vertical e horizontal; a construção de ondulações transversais em locais críticos; e a colocação de defensas metálicas. “De uma forma geral, quase todas as rodovias tiveram redução. Em alguns casos, é possível identificar as razões com grande margem de acerto. Em outras, não conseguimos identificar o motivo de a variação ter sido menor”, diz.
Na EPTG, além do aumento na fiscalização eletrônica e a sinalização horizontal, Murilo destaca a colocação de defensas metálicas nas cabeças de pontes, viadutos e aterros e a implantação da faixa exclusiva de ônibus. “Isto permitiu uma redução significativa no número de mortes — de seis, em 2012, e 13, em 2011. Já no Eixão, o resultado não foi tão expressivo. É preciso entender que das sete mortes ocorridas, três foram por atropelamento. Não conseguimos resolver o problema da travessia de pedestres”, constata.
“É claro que só o controle de velocidade não dá conta. Mas é uma ferramenta imprescindível para que possamos introduzir a melhor convivência entre motoristas, pedestres e ciclistas”
Eduardo Biavati,
sociólogo e especialista em educação no trânsito


Por Adriana Bernardes – Correio Braziliense

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