sexta-feira, 14 de março de 2014

Agnelo Queiroz: Roriz é passado


Petistas avaliam que a chapa definida com Arruda representa uma política superada no Distrito Federal. Especialistas avaliam, no entanto, que o ex-governador tem potencial para transferir votos à filha

Joaquim Roriz: de acordo com advogado do ex-governador, a decisão dele de não disputar as eleições é mais por questões pessoais do que jurídicas.

Adversários da chapa formada esta semana com a aliança entre Joaquim Roriz (PRTB) e José Roberto Arruda (PR), petistas criticaram a união dos dois ex-governadores. Em cerimônia no Palácio do Planalto, o governador Agnelo Queiroz (PT) disse que Arruda e Roriz, representado pela filha, a deputada distrital Liliane Roriz (PRTB) “fazem parte do passado de Brasília” e “significam página virada para o Distrito Federal”. “A população não cairá nessa novamente”, afirmou. ...

O deputado Chico Vigilante (PT) minimizou o suposto poder de transferência de votos de Roriz. “No Brasil, só dois políticos conseguiram passar seu eleitorado para um escolhido. Ocorreu com Leonel Brizola (PDT), que transferiu para Lula em 1989 na eleição presidencial, e o próprio Lula, que ajudou a eleger a presidente Dilma Rousseff”, avalia Vigilante. Para ele, a performance de dona Weslian Roriz (PSC), neófita na política que entrou na campanha em substituição ao marido, Joaquim Roriz, e levou a eleição para o segundo turno em 2010, tem uma explicação em parte da rejeição do PT. “No DF, o PT tem 30% de rejeição do eleitorado. Esses votos sempre serão distribuídos entre candidatos da oposição”, analisa.

O lançamento da chapa composta por Arruda e Liliane para o governo pode representar o fim da carreira de Joaquim Roriz. Ele abriu mão de entrar na disputa e indicou a filha caçula. Em 2018, Roriz terá 81 anos e continuará inelegível pela Lei da Ficha Limpa. Especialistas acreditam que o ex-governador terá influência na política brasiliense, ainda que não se candidate.

Em 2013, Roriz anunciou que disputaria ao governo. Fez aliança com Arruda, sob o pretexto de que o mais bem colocado nas pesquisas apoiaria o outro na cabeça de chapa. Mas rapidamente surgiram especulações de que o ex-governador estava apenas se cacifando para depois indicar um sucessor. O nome da deputada distrital Liliane Roriz, que está no fim do primeiro mandato, surgiu como opção. 

A aliança foi formalizada na última quarta-feira, depois de uma longa reunião na casa de Roriz, no Park Way. Escolhido cabeça de chapa, Arruda pode enfrentar dificuldades até a eleição. Ele tem três condenações em primeira instância por improbidade administrativa e, caso haja uma confirmação em segunda instância até o pleito, ele ficará inelegível. Nesse caso, o grupo precisará fazer novos acertos.

Liliane Roriz virou a herdeira política do pai depois que a irmã, Jaqueline, se desgastou. A deputada federal, eleita pelo PMN, era a escolhida no clã, mas ela ficou sem condições de concorrer à chapa majoritária após vir  à tona a imagem em que aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa. A parlamentar foi condenada em primeira instância por improbidade administrativa em decorrência do episódio. A Justiça considerou que Jaqueline recebeu dinheiro de Durval a pedido de Arruda, também condenado na mesma ação.

Motivos

Advogado de Roriz, Eládio Carneiro participou do encontro decisivo e afirma que Roriz desistiu da disputa por questões pessoais, e não por temores jurídicos. “Ele tem preservados os direitos políticos. Era elegível em 2010 e continua elegível hoje. A decisão dele foi mais do ponto de vista pessoal”, comenta Eládio. “Ele achava importante manter o grupo político unido e coeso para derrotar o governo atual e, por isso, tomou essa decisão. Poderia haver questionamentos, é claro, mas não foi o fator preponderante”, acrescenta.

Sobre a possibilidade de Roriz não voltar a se candidatar, Eládio diz que a idade não é um impedimento. “Siqueira Campos tem 85 anos e vai ser candidato em Tocantins. Temos ainda o exemplo do senador José Sarney. Então, o fato de que ele terá 81 anos em 2018 não é, por si só, um impedimento para que volte a concorrer novamente. E de qualquer forma, o rorizismo continua forte e vivo. A candidatura da Dona Weslian em 2010 é a grande prova disso”, ressaltou. 

Saúde frágil

Apesar de o advogado do ex-governador sustentar que os direitos políticos de Roriz estão garantidos, a certeza de enfrentar o Ministério Público Eleitoral com a impugnação da candidatura foi um dos motivos para o recuo. Outra razão que explica a decisão de apoiar Liliane este ano é a fragilidade da saúde do ex-governador. Ele sofre de falência renal e tem que se submeter diariamente a sessões de hemodiálise. Mesmo não se candidatando, a tendência é que Roriz não faça o transplante renal este ano, já que a família estará mobilizada em torno da campanha e os médicos garantiram que o quadro é estável. 

O cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília (UnB), acredita que a influência de Joaquim Roriz continuará forte, mesmo com o ex-governador longe das disputas eleitorais. “Ele tem um patrimônio político considerável e vai disponibilizar isso para os sucessores. A política brasiliense, há muito tempo, está dividida entre o PT e os seguidores do Roriz. O rorizismo virou uma tradição, uma legenda política, que continuará a ter impacto no cenário do DF”, comenta o especialista. Mas ele acredita que a tendência é a força do cacique decrescer, à medida em que surgirem novas lideranças. “Se daqui a quatro anos, essa influência ainda será grande, só o tempo dirá”, comenta.

O professor de ciência política da UnB David Fleischer também acredita que o rorizismo continuará forte, mas não por muito tempo. “Quem está com o poder nas mãos tem mais possibilidade de distribuir benesses à população, aumentando a influência e neutralizando a influência do rorizismo. Mas esse poder ainda é forte. O Roriz criou cidades inteiras, como Samambaia, e distribuiu muitos lotes nas quatro vezes em que foi governador”, justifica o especialista. 

Denúncia

Empossado senador em 2007, Roriz renunciou sete meses depois para escapar de um processo de cassação. Ele foi flagrado em investigação do Ministério Público em um diálogo telefônico com o então presidente do Banco de Brasília (BRB), Tarcísio Franklim de Moura. O assunto era o desconto de um cheque de R$ 2,2 milhões, em nome do empresário Nenê Constantino. Roriz sustentou que a conversa era um negócio privado, envolvendo um empréstimo que havia pedido a Constantino para comprar o embrião de uma bezerra. Em 2011, o Ministério Público denunciou Roriz como chefe de um suposto esquema de corrupção.

Análise da notícia - O tempo da política

Ana Maria Campos

O ex-governador Joaquim Roriz não é de tomar decisões políticas importantes antecipadamente. Sempre espera o último minuto do segundo tempo para anunciar seu caminho. O suspense é sua arma. Desta vez, no entanto, ele adotou estratégia diferente. Pressionado pelo ex-governador José Roberto Arruda (PR), Roriz fechou o acordo para as próximas eleições, três meses antes do registro das candidaturas. Para Arruda e Roriz, era fundamental marcar uma posição neste momento em que antigos aliados, como PSDB e DEM, começam a construir uma chapa alternativa. 

Os dois caciques precisam construir uma via de oposição ao governador Agnelo Queiroz (PT), buscando também parceiros em partidos que orbitam em torno do Palácio do Buriti, como o PP, que tem o ex-vice-governador Paulo Octávio, e o PEN, do distrital Alírio Neto. 

Se conseguir firmar a candidatura ao GDF e não ficar inelegível, Arruda precisará de tempo de televisão na campanha. Sabe que será bombardeado por adversários com a imagem em que aparece recebendo dinheiro de Durval Barbosa e com as lembranças da crise que derrubou seu governo em 2010: a prisão, as denúncias da Caixa de Pandora, a cassação pela Justiça Eleitoral. Para neutralizar esse desgate, Arruda terá de se defender. Estratégias têm sido montadas com marqueteiros e advogados. 
Fonte: HELENA MADER - ANA MARIA CAMPOS - Correio Braziliense - 14/03/2014 - - 08:08:42

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