Yuri Sanson
Após
as grandes manifestações que tomaram as ruas do país no mês de junho, o feriado
de 7 de Setembro parece ter surgido como um grande catalisador das
insatisfações populares.
Se toda ação causa uma reação, a
truculência e despreparo de uma polícia (ainda) militar, sem comando e agindo
arbitrariamente, agredindo tanto jornalistas quanto manifestantes pacíficos,
causou um acirramento e a adoção da tática ‘black bloc’ por grupos anarquistas.
As roupas e máscaras negras que dão
nome à estratégia durante manifestações são usadas para dificultar ou mesmo
impedir qualquer tipo de identificação pelas autoridades, também com a
finalidade de parecer uma única massa imensa, promovendo solidariedade entre
seus participantes.
Essencialmente anarquistas, os Black
blocs além de protegerem os manifestantes contra a violência policial, se
diferenciam de outros grupos anti-capitalistas por rotineiramente se utilizarem
da destruição da propriedade para trazer atenção para sua oposição contra
corporações multinacionais e aos apoios e às vantagens recebidas dos corruptos
governos por essas companhias. Os bancos, principais financiadores do crime
organizado mundial, são os principais alvos.
“SEM GOVERNO”
No 7 de Setembro uma multidão de
anarquistas tomou as ruas por todo o Brasil. Do “sem partidos” a voz
predominante passou a ser “sem governo”.
Anarquia significa ausência de
coerção e não a ausência de ordem. A noção equivocada de que anarquia
é sinônimo de caos se popularizou entre o fim do século XIX e o
início do século XX, através dos meios de comunicação e de propaganda
patronais, mantidos por instituições políticas e religiosas. Nesse período, em
razão do grau elevado de organização dos segmentos operários, de fundo
libertário, surgiram inúmeras campanhas antianarquistas.
Outro equívoco banal é se considerar
anarquia como sendo a ausência de laços de solidariedade (indiferença) entre os
homens, quando, em realidade, um dos laços mais valorizados pelos anarquistas é
o auxílio mútuo. À ausência de ordem – ideia externa aos princípios
anarquistas -, dá-se o nome de “anomia”.
A anomia é um estado de falta
de objetivos e perda de identidade, provocado pelas intensas transformações
ocorrentes no mundo social moderno. A partir do surgimento do Capitalismo,
e da tomada da Razão, como forma de explicar o mundo, há um brusco rompimento
com valores, fortemente ligados à concepção Religiosa.
FENÔMENO MUNDIAL
Para Etienne Davignon, chairman do
grupo Bilderberg, este é um fenômeno mundial: “O povo compreende de forma
confusa que há uma mudança no ar”, diz. “Mas nenhum governo irá satisfazer as
reações do povo. As pessoas tem grande reticências e cinismo por todo aquele
que carrega responsabilidades.”
“Todos estão contra a comunidade
empresarial devido aos excessos financeiros. Também, a Igreja desapareceu. A
reação popular é também uma consequência ao fato que um número grande de
referências tradicionais tem desaparecido. As pessoas procuram por aquilo que é
referência.”
A Modernidade, com seus intensos
processos de mudança, não fornece novos valores que preencham os anteriores
demolidos, ocasionando uma espécie de vazio de significado no cotidiano de
muitos indivíduos. Há um sentimento de se “estar à deriva,” participando
inconsciente dos processos coletivos/sociais: perda quase total da atuação
consciente e da identidade.
Um autoritário, corrupto e violento
governo acende a chama por liberdade e democracia. A total indiferença e
descrença pela religião, pelo capitalismo e pelo sistema político-eleitoral —
eis a anarquia.
Fonte:Tribuna da imprensa
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