domingo, 30 de dezembro de 2012

Capital marcada pelas diferenças

O Distrito Federal concentra as maiores rendas per capita e domiciliar do Brasil, além de figurar como um dos mercados mais lucrativos do país. Em contrapartida, o custo de vida é elevado, os impostos, pesados, e muitos brasilienses se perdem em dívidas.

A Esplanada dos Ministérios abriga boa parte do funcionalismo público no Distrito Federal: alta renda reflete no custo de vida da população
Uma realidade sul-coreana no coração do Brasil. Assim se equipara o Distrito Federal quando o assunto é renda per capita anual. Como o desenvolvido país asiático, a riqueza produzida e dividida por seus habitantes gira em torno de 20 mil dólares, na comparação de dados do Banco Mundial com números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A alta renda per capita brasiliense também se aproxima à média de alguns países europeus, transformando o DF na única unidade da Federação com números de primeiro mundo. O estado de São Paulo, cujo Produto Interno Bruto (PIB) per capita é o segundo maior do Brasil, apresenta números similares aos do Chile, de 14 mil dólares anuais.
Por ser a terra dos melhores rendimentos individual e domiciliar no Brasil, o DF virou um dos mercados mais cobiçados e lucrativos, deixando a capital como a queridinha dos lojistas e dos investidores. Com o maior potencial de consumo anual por habitante entre as cidades brasileiras — R$ 23.842, segundo estudo do IPC Maps —, a região lidera em venda e em valores nichos como o imobiliário, o de telecomunicações, o de bens de luxo e o de produtos esportivos.
Durante sete dias, o Correio mostrará, em uma série de reportagens, quais são os setores de consumo em que o DF se destaca em relação às demais unidades da Federação e as vantagens e os problemas dessa posição. A alta renda, principalmente dos servidores públicos, se reflete também nos salários da iniciativa privada, obrigada a remunerar melhor do que a média nacional.
Mas esses vencimentos também são motivo de preocupação para quem vive no quadrilátero e não faz parte do grupo seleto de salários elevados. Isso porque o rendimento per capita é um dos principais responsáveis pelo alto custo de vida na capital do país. “O contingente de servidores públicos e os da iniciativa privada que ganham bons salários faz com a cidade ofereça mais bens de consumo, mercadorias caras e cobre mais pelos serviços”, analisa Newton Marques, professor de economia da UnB.
A média salarial do setor público, de acordo com a Pesquisa de Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, é de R$ 5.321, quatro vezes superior à da iniciativa privada, de R$ 1.322. Na média, a renda do DF chega a R$ 2.332, 48% acima do valor nacional, de R$ 1.574.
O bombeiro George Braga, 42 anos, mora no DF desde os 6 anos e ainda se assusta com o custo de vida. Ele viveu em Washington, capital dos Estados Unidos, e garante que Brasília consegue ser mais cara em alguns serviços do que a cidade norte-americana. “Geralmente, o custo de vida nas capitais dos países é mais alto do que em outras localidades. Mas quando comparo Washington e Brasília, percebo que a moradia é o mesmo preço, só que, em Washington, a alimentação e os bens eletrônicos, por exemplo, são mais baratos”, avalia.
George lembra que muitos candidatos de concursos públicos se mudam para Brasília porque o salário se mostra melhor. O dos bombeiros, por exemplo, é o maior do país, R$ 4.269,56, 29% à frente do segundo colocado, Sergipe.
Impostos
Os custos com moradia e aluguel contribuem para elevar os gastos de quem vive no Distrito Federal. Isso acaba por refletir em preços mais altos de serviços e mercadorias, que ficam caras por conta do investimento do comerciante com espaço. Para o analista e professor do Ibmec César Frade, o tombamento contribui para a ascensão dos valores porque impede a expansão imobiliária e faz com que o metro quadrado seja mais caro do que em bairros como Jardins, em São Paulo, e Ipanema, no Rio de Janeiro. “Não pode demolir uma casa nas Quadras 700, por exemplo. Em outra cidade, elas teriam virado prédios. Com a demanda subindo, o preço vai para as alturas. Nesse ponto, Águas Claras e o (Residencial) Park Sul aliviam um pouco a pressão da oferta e da procura.”
Além disso, o brasiliense sente no bolso o peso dos impostos. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o DF é a unidade da Federação na qual o imposto mais onera o orçamento. Cada cidadão pagou, em média, R$ 26.046,18 em tributos entre 1º de janeiro e 29 de agosto deste ano. O valor é cinco vezes superior ao índice nacional, de R$ 5.146,60.
Como boa parte dos rendimentos no DF está relacionada a assalariados, principalmente do setor público, nem sempre a renda é suficiente para cobrir as despesas. Mas o emprego garantido pela estabilidade dos estatutários faz com o que o brasiliense também se endivide e tenha o valor médio da inadimplência per capita mais alto do país — R$ 510,55 —, maior do que o dobro da média nacional, R$ 226,2. “O funcionário público tem acesso ao crédito, à oferta de consignado. Aí, ele gasta e mostra a sua falta de educação financeira”, acredita o professor Newton Marques, da UnB.

Por Flavia Maia:
Fonte: Fercal news

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