segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Para petistas: PT precisa se reinventar para os próximos quatro anos no poder

Senador Humberto Costa critica fisiologismo


Caminhando para um ciclo de 16 anos à frente do governo federal, o PT tem como desafio se reinventar caso queira permanecer no poder ainda mais tempo, afirmam integrantes do próprio partido. A presidente Dilma Rousseff foi reeleita por uma margem apertada de votos, em uma disputa marcada por um forte sentimento antipetista. A avaliação de integrantes da legenda é que o partido pagou um preço alto por escândalos de corrupção como o mensalão e o suposto desvio de dinheiro na Petrobras...

Líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE) defende que tanto o partido quanto o governo federal revejam suas práticas. Para ele, parte do PT faz hoje uma política tradicional, baseada no fisiologismo, que se choca com suas bandeiras de fundação. Costa também defende que o Palácio do Planalto amplie sua interlocução com a sociedade e com os governadores para não ficar refém do Congresso.

— O PT surgiu como contraponto a essa prática política tradicional, e boa parte do PT pratica hoje essa política tradicional. Se o PT conseguir se reinventar, temos mais tempo de perspectiva de poder — afirmou Costa.

Questionado sobre o que chama de “política tradicional”, ele respondeu:

— Fisiologismo, a questão de só trabalhar a disputa eleitoral sentado na máquina do governo, a nomeação de cargos, o peso do dinheiro na eleição. O número de parlamentares nossos que têm perfil de voto de opinião reduziu consideravelmente. A população deu um recado claro de que não aceita, que compreende até certo ponto, mas não aceita esse toma-lá-da-cá como é hoje.

Principal liderança petista, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve mergulhar na reorganização do partido. Ele tem mostrado preocupação com a formação de novos quadros. A primeira tarefa, no entanto, deve ser um diagnóstico dos erros cometidos em São Paulo, onde o candidato ao governo, Alexandre Padilha, patinou na disputa e Dilma foi derrotada por Aécio Neves (PSDB) por quase 30 pontos percentuais.

Além da renovação, outra preocupação é não deixar o PT virar um partido cartorial. Integrantes do PT dizem que o partido tem hoje 1,7 milhão de filiados, mas não tem 1,7 milhão de militantes. Segundo eles, não há sentido em crescer por crescer, e resumem a questão afirmando que não querem virar um PMDB, a sigla com maior número de filiados do país mas sem uma vida partidária orgânica.

Jorge Viana fala sobre falta de diálogo 

Para o senador Jorge Viana (PT-AC), cujo grupo político foi reconduzido ao governo do Acre e somará 20 anos no comando do estado, o PT está com “déficit de boa política” e tem praticado um “ativismo eleitoral”.

— O PT sempre teve fama de ser bom na política, e o desafio era ser bom de governo. Agora estamos com déficit de boa política. O partido não encontrou forma de dialogar com a juventude, e há um descolamento no diálogo com a sociedade. Vivemos em um ativismo eleitoral.

O futuro do PT está intrinsecamente ligado ao sucesso do segundo mandato de Dilma. Petistas consideram o ministério da presidente fraco e defendem que ela escale nomes de peso agora.

— A sociedade lê o PT pelo que o governo faz. Não é o PT se meter, mas o governo tem que nos ouvir e ouvir os parceiros —afirmou um petista.

Nessa eleição, a sigla viu sua bancada na Câmara diminuir. Em 2010, o PT elegeu 86 deputados. Atualmente está com 88. No ano que vem, serão 70. Mesmo assim, o partido manteve-se como a maior bancada da Câmara.

‘VÍTIMAS DA CRIMINALIZAÇÃO’

Já no Senado, a avaliação no partido é que o desempenho poderia ter sido melhor. O PT só elegeu dois senadores: Fátima Bezerra (RN) e Paulo Rocha (PA). Nomes considerados competitivos como Eduardo Suplicy (SP), João Coser (ES) e Olívio Dutra (RS) ficaram de fora. Atualmente o partido tem 13 senadores, e esse número deve chegar a 14 no ano que vem. Marta Suplicy (SP) deve deixar o Ministério da Cultura e reassumir seu mandato. 

Para o deputado estadual Raul Pont (PT-RS), integrante do diretório nacional, o desempenho eleitoral do PT foi prejudicado pela “criminalização” da legenda. No Rio Grande do Sul, o governador Tarso Genro (PT) não conseguiu se reeleger.

— Fomos vítimas da criminalização que o PT sofreu no país. Colocaram-nos um carimbo de corruptos, o que não aceitamos — disse Pont.

Lideranças do PT se preocupam com a burocratização após 12 anos de governo federal:

— Para um partido de esquerda, é fundamental formular propostas para entusiasmar as pessoas, criar novas agendas, manter uma vida partidária autônoma, sem abrir mão da defesa do governo — disse uma liderança petista.
Fonte: O Globo. Por FERNANDA KRAKOVICS. Foto: Ailton de Freitas / Ailton de Freitas/5-8-2014 - 03/11/2014 - - 08:46:56

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