O estado de Goiás tem à disposição R$ 38 milhões em recursos federais para erguer quatro presídios em cidades vizinhas ao DF. A verba está disponível há cinco anos, mas falhas administrativas e burocracia aumentam o risco de rebeliões na região

A responsabilidade pelos atrasos nas obras das novas
penitenciárias, com capacidade para 1,2 mil presos, gerou um embate entre os
governos federal e estadual. As construções só tiveram início no ano passado
depois de várias intervenções do Ministério Público de Goiás (MPGO). O recurso
deveria ter sido utilizado para erguer duas unidades com 421 vagas, cada. Mas,
segundo o MPGO, o modelo apresentado à época era muito oneroso, e o recurso,
insuficiente. “Reformulamos a ideia e duas estruturas se transformaram em
quatro presídios, cada um com capacidade para 300 pessoas. O valor é o mesmo,
mas está sendo aplicado só agora”, critica o promotor Bernardo Boclin Borges,
coordenador do Programa do Entorno, do MPGO.
Além da verba liberada pelo Ministério da Justiça, por meio
do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), Goiás
investirá mais R$ 16,3 milhões, totalizando R$ 54,3 milhões. Apesar de as altas
cifras estarem disponibilizadas para Goiás desde dezembro de 2008, pouco se vê
de melhoria no sistema.
O Correio esteve em três das quatro regiões que receberão
presídios. Nos municípios goianos de Formosa, Águas Lindas e Novo Gama, não há
um tijolo sequer no lugar. Somente em Anápolis a obra está em andamento (leia
quadro). A reportagem também visitou as atuais unidades prisionais, incluindo a
de Planaltina de Goiás, que já foi considerada pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) a pior do estado. “É um sistema de faz de conta. Uma estrutura
que nunca funcionou”, ressalta Borges.
A partir de hoje, o Correio publica uma série de reportagens
sobre a situação do sistema prisional das regiões vizinhas ao DF. Os problemas
detectados vão além do deficit de vagas. Faltam estrutura básica, servidores,
remédios, água, comida e muitos outros itens básicos para uma sobrevivência
digna. O descaso afeta não só os presos. Os servidores trabalham diante do medo
de ver uma rebelião chegar ao porte da que ocorreu na penitenciária de
Pedrinhas, no Maranhão. A população também é prejudicada. Hoje, praticamente
todas as unidades estão localizadas dentro das cidades, ao lado de casas,
igrejas e escolas.
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