O Distrito Federal concentra as maiores rendas per capita e domiciliar do Brasil, além de figurar como um dos mercados mais lucrativos do país. Em contrapartida, o custo de vida é elevado, os impostos, pesados, e muitos brasilienses se perdem em dívidas.
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A Esplanada dos Ministérios abriga boa parte do funcionalismo público no Distrito Federal: alta renda reflete no custo de vida da população |
Uma realidade sul-coreana no coração do Brasil. Assim se equipara o
Distrito Federal quando o assunto é renda per capita anual. Como o
desenvolvido país asiático, a riqueza produzida e dividida por seus
habitantes gira em torno de 20 mil dólares, na comparação de dados do
Banco Mundial com números do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). A alta renda per capita brasiliense também se
aproxima à média de alguns países europeus, transformando o DF na única
unidade da Federação com números de primeiro mundo. O estado de São
Paulo, cujo Produto Interno Bruto (PIB) per capita é o segundo maior do
Brasil, apresenta números similares aos do Chile, de 14 mil dólares
anuais.
Por ser a terra dos melhores rendimentos individual e domiciliar no
Brasil, o DF virou um dos mercados mais cobiçados e lucrativos, deixando
a capital como a queridinha dos lojistas e dos investidores. Com o
maior potencial de consumo anual por habitante entre as cidades
brasileiras — R$ 23.842, segundo estudo do IPC Maps —, a região lidera
em venda e em valores nichos como o imobiliário, o de telecomunicações, o
de bens de luxo e o de produtos esportivos.
Durante sete dias, o Correio mostrará, em uma série de reportagens,
quais são os setores de consumo em que o DF se destaca em relação às
demais unidades da Federação e as vantagens e os problemas dessa
posição. A alta renda, principalmente dos servidores públicos, se
reflete também nos salários da iniciativa privada, obrigada a remunerar
melhor do que a média nacional.
Mas esses vencimentos também são motivo de preocupação para quem vive
no quadrilátero e não faz parte do grupo seleto de salários elevados.
Isso porque o rendimento per capita é um dos principais responsáveis
pelo alto custo de vida na capital do país. “O contingente de servidores
públicos e os da iniciativa privada que ganham bons salários faz com a
cidade ofereça mais bens de consumo, mercadorias caras e cobre mais
pelos serviços”, analisa Newton Marques, professor de economia da UnB.
A média salarial do setor público, de acordo com a Pesquisa de
Emprego e Desemprego do Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos, é de R$ 5.321, quatro vezes superior à da
iniciativa privada, de R$ 1.322. Na média, a renda do DF chega a R$
2.332, 48% acima do valor nacional, de R$ 1.574.
O bombeiro George Braga, 42 anos, mora no DF desde os 6 anos e ainda
se assusta com o custo de vida. Ele viveu em Washington, capital dos
Estados Unidos, e garante que Brasília consegue ser mais cara em alguns
serviços do que a cidade norte-americana. “Geralmente, o custo de vida
nas capitais dos países é mais alto do que em outras localidades. Mas
quando comparo Washington e Brasília, percebo que a moradia é o mesmo
preço, só que, em Washington, a alimentação e os bens eletrônicos, por
exemplo, são mais baratos”, avalia.
George lembra que muitos candidatos de concursos públicos se mudam
para Brasília porque o salário se mostra melhor. O dos bombeiros, por
exemplo, é o maior do país, R$ 4.269,56, 29% à frente do segundo
colocado, Sergipe.
Impostos
Os custos com moradia e aluguel contribuem para elevar os gastos de
quem vive no Distrito Federal. Isso acaba por refletir em preços mais
altos de serviços e mercadorias, que ficam caras por conta do
investimento do comerciante com espaço. Para o analista e professor do
Ibmec César Frade, o tombamento contribui para a ascensão dos valores
porque impede a expansão imobiliária e faz com que o metro quadrado seja
mais caro do que em bairros como Jardins, em São Paulo, e Ipanema, no
Rio de Janeiro. “Não pode demolir uma casa nas Quadras 700, por exemplo.
Em outra cidade, elas teriam virado prédios. Com a demanda subindo, o
preço vai para as alturas. Nesse ponto, Águas Claras e o (Residencial)
Park Sul aliviam um pouco a pressão da oferta e da procura.”
Além disso, o brasiliense sente no bolso o peso dos impostos. Segundo
levantamento do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT),
o DF é a unidade da Federação na qual o imposto mais onera o orçamento.
Cada cidadão pagou, em média, R$ 26.046,18 em tributos entre 1º de
janeiro e 29 de agosto deste ano. O valor é cinco vezes superior ao
índice nacional, de R$ 5.146,60.
Como boa parte dos rendimentos no DF está relacionada a assalariados,
principalmente do setor público, nem sempre a renda é suficiente para
cobrir as despesas. Mas o emprego garantido pela estabilidade dos
estatutários faz com o que o brasiliense também se endivide e tenha o
valor médio da inadimplência per capita mais alto do país — R$ 510,55 —,
maior do que o dobro da média nacional, R$ 226,2. “O funcionário
público tem acesso ao crédito, à oferta de consignado. Aí, ele gasta e
mostra a sua falta de educação financeira”, acredita o professor Newton
Marques, da UnB.
Fonte: Fercal news
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