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Cristovam acredita que faltou pulso para Agnelo em relação à crise segurançaFoto: Moreno |
As eleições 2014 já estão
na pauta obrigatória das conversas dos brasilienses, que aguardam ansiosamente
a divulgação oficial dos nomes dos candidatos ao Governo do Distrito Federal. E
assim como você e seus amigos, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também
aguarda a definição dos nomes que concorrerão ao Buriti.
Cristovam – que ocupou o
cargo entre 1995 e 1999 – torce por uma aliança entre os partidos à esquerda do
governador Agnelo Queiroz. De preferência, em torno de um único candidato, como
Antônio Reguffe (PDT), Rodrigo Rollemberg (PSB) ou Toninho (PSol). Segundo ele,
a divisão das candidaturas da esquerda poderia trazer uma tragédia para a
cidade: Joaquim Roriz (PRTB) e José Roberto Arruda (PR). "Seria muito
difícil, para Brasília, explicar isso para o restante do Brasil", lamenta.
Confira, a seguir, as
opiniões de Cristovam sobre os temas mais importantes do momento, como
segurança, educação, construção de creches e, é claro, política.
Plano
Brasília: Senador, de forma objetiva, o senhor vai estar no palanque de Agnelo
Queiroz?
Cristovam
Buarque: Não. Não vou estar no palanque de Agnelo Queiroz. Eu
quero um outro palanque. Obviamente, não estarei no palanque do Arruda ou do
Roriz. Eu gostaria que surgisse um outro palanque, que unisse Reguffe, Rodrigo,
Toninho. Tem que ter um palanque alternativo.
PB: E desses nomes, quem seria o candidato mais
provável a governador?
CB:
Eu ainda estou torcendo que seja o Reguffe, mas acho que ele está demorando
muito para decidir. Também poderia ser o Toninho, junto com o Rodrigo
[Rollemberg] ou cada um separado – o que não vai ser bom.
PB:
E o senhor, não sairia candidato.
CB:
Não.
PB:
De jeito nenhum?
CB: A
gente nunca deve dizer "de jeito nenhum", porque é falta de respeito.
Mas não está dentro do que eu acho que seria o melhor para o meu trabalho na
política brasileira. Estou há 20 anos em uma campanha nacional pela
federalização da educação, por uma revolução educacional. E a gente nota que as
pessoas, agora, começam a falar nisso. Eu já fui governador. Já dei minha
contribuição à cidade, de uma maneira muito intensa. Foram quatro anos, 24
horas por dia, sete dias por semana. Então, não acho que eu seja um nome que
deva vir para o governo. E vou fazer tudo para que não seja eu.
PB:
O senhor falou em uma possível aliança entre os partidos à esquerda dos
candidatos mais prováveis. Sem essa união, PDT, PSB e PSol têm condições de
vencer?
CB: É
possível vencer, sim. Por isso existem dois turnos. No primeiro, você vota em
quem pensa mais próximo de você; no segundo, em quem é menos distante. Então, é
até bom quando existem muitos candidatos. Mas, a divisão das candidaturas no DF
poderia trazer uma tragédia, que seriam Roriz e Arruda no segundo turno. Seria
muito difícil, para Brasília, explicar isso para o restante do Brasil. Eu nem
vou discutir se a Justiça permitirá ou não que eles sejam candidatos. Mas acho
que eles precisam purgar, um pouco mais, a imagem que deixaram. A imagem de
corrupção que Brasília passou para o restante do Brasil, por causa deles,
exigiria que eles não fossem candidatos.
PB:
Em relação ao Reguffe, ele adota uma postura meio independente, votando – às
vezes – contra às determinações do partido. Como defender uma candidatura
assim?
CB: O
Reguffe sempre foi coerente com aquilo que ele defende. E eu sou a favor da
coerência. Eu não confio é naquele político que diz uma coisa e, depois, vota
diferente. Em todos os votos que o Reguffe deu – que não foram condizentes com
o que o PDT defendia – ele foi coerente com o que ele (Reguffe) defendia. Acho
que ninguém vai mudar menos que o Reguffe. Todo mundo sabe o que ele vem
defendendo, há muitos anos, que é a questão da ética na política. Se, amanhã,
ele não seguir as determinações do partido, será mais provável que o partido
tenha mudado do que ele.
PB:
Além do Reguffe, existe algum outro nome com potencial para despontar, a médio
prazo, como uma liderança política no Distrito Federal?
CB:
Tem muitos jovens com quem eu converso nas ruas, que têm vontade de fazer
política. Rapazes e moças empolgados, já filiados a partidos políticos, que
ainda não têm mandato, mas vão se destacar nos próximos anos. Nomes que ainda
não são conhecidos, mas que ajudarão a renovar a política do DF.
PB:
Qual a sua opinião sobre a gestão do Agnelo?
CB:
Eu apoiei firmemente a eleição do Agnelo, mas esperava um governo diferente.
Esperava um governo mais social e não imaginava que a marca dele seria um
estádio. Essa é a marca que ele decidiu deixar para Brasília. O Agnelo não fez
questão de ficar com a marca do social, que é a marca que caracteriza um
governo de esquerda, como eu fiquei. Eu fiquei com a marca da bolsa escola, da
faixa de pedestre, da contratação de professores. Eu queria que, quando viesse
a Copa, tivesse uma faixa bem grande no nosso aeroporto: "Você está entrando
em um território livre de analfabetismo". Queria que essa fosse a marca do
Agnelo.
PB:
Outra marca que ele está deixando é a da crise da segurança..
“O Agnelo está
errando na condução dessa crise [da segurança]. Tanto no comando quanto na
maneira de conduzir o diálogo.”
Cristovam Buarque
CB:
Infelizmente... E o Agnelo está errando na condução dessa crise. Tanto no
comando quanto na maneira de conduzir o diálogo – que é o que eu chamo de
"comandiálogo". O comando exige respeito à hierarquia. Uma coisa que
eu me orgulho, no meu governo, é de ter colocado no comando da PM as pessoas da
corporação, por ordem de antiguidade. Eu não escolhia a pessoa por nome. Tanto
que um dos comandantes, na época do meu governo, era primo do Roriz. O Agnelo
rompeu com essa hierarquia. Depois, ele deu um aumento de salário bom, mas só
para os comandantes. Isso acirrou os ânimos. Então, a crise da segurança tem o
fator salarial, mas tem o descontentamento moral da tropa. Além disso, o
governador precisa perceber que segurança não pode ser um problema apenas da
polícia. Segurança é uma questão de bom relacionamento dentro da sociedade, de
educação. Às vezes, uma lâmpada elétrica em uma parada de ônibus resolve mais
que o PM.
PB:
E o que fazer para resolver o problema da segurança na cidade?
CB:
Quando a gente tem um problema muito sério, tem de chamar toda a equipe para
resolver. O Agnelo tinha de reunir todos os secretários do governo e dizer: o
problema da segurança é de todos vocês. Não é só do secretário de segurança. O
que vamos fazer para resolver? Secretário de educação, o que você vai fazer?
Presidente da CEB, o que você vai fazer?
PB:
Senador, as pessoas comparam o seu governo com o do Agnelo, dizendo que ambos
foram governos do PT que não vão se reeleger. Quais são as semelhanças e as diferenças
entre a sua candidatura à reeleição e a do Agnelo?
CB:
Quando
eu fui falar com o governador pelo problema da crise da polícia, a primeira
coisa que eu disse foi: "Governador, eu cometi erros no meu governo e o
pior deles foi não ter sabido lidar com a greve dos professores. Essa greve dos
PMs pode ser a sua greve dos professores". Mas veja que eu perdi em uma
época na qual o orçamento era menor, contra um candidato que vinha com a imagem
forte, que era o Roriz. A situação do Agnelo é outra: ele tem um orçamento de
mais de R$ 20 bilhões, somando os recursos do fundo constitucional. Além disso,
os adversários mais prováveis do Agnelo, até o momento, estão com a imagem
pública desgastada. Tanto o Arruda quanto o Roriz. No meu caso teve, ainda, a
questão do debate do segundo turno. Eu tentei mostrar que o Roriz estava
mentindo ao prometer aumento a todos os servidores públicos. E ele estava
mesmo, tanto que não deu o aumento prometido, depois de eleito. Mas não era
isso que as pessoas queriam ouvir. Ali, eu perdi voto. Não devia ter batido de
frente. E tem mais uma coisa que mudou, a favor ao Agnelo. O eleitor de hoje já
não é o mesmo. Eles não são mais fieis ao Roriz ou ao Arruda. Os pais eram, mas
eles não são. Eles tendem a votar em quem fizer a melhor campanha.
A
entrevista com Cristovam Buarque foi realizada pelos jornalistas Edson
Crisóstomo, da revista Plano Brasília; Guaíra Flor e Tchérena Guimarães, do
recém-lançado Portal Plano Brasília, e Yuri Achcar, da TV Record. O encontro
ocorreu na terça-feira, 04 de fevereiro, no restaurante Santé, da 413 Norte.
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