- Por Gustavo Gantois --  A apenas duas semanas do início do maior julgamento que o Supremo   Tribunal Federal (STF) já realizou, o ex-deputado federal Roberto   Jefferson (PTB-RJ) tem convicção de seu julgamento. "Eu não serei preso.   Não serei. Não serei preso."
 
 Nas  palavras do próprio delator do mensalão, o partido quis dar  uma prova  aos ministros do Supremo de que confia em sua absolvição e  Jefferson  foi reconduzido nesta quarta-feira à presidência do PTB. "Essa  foi uma  decisão da executiva nacional do partido, por sugestão do  Collor, do  meu advogado. O partido entende que tenho respeito dos  deputados, dos  senadores e dos prefeitos do PTB", disse Jefferson.
Em entrevista concedida ao Terra,  Roberto Jefferson  classificou como "absurda decisão política do  Ministério Público" seu  indiciamento por corrupção passiva e lavagem de  dinheiro. A defesa do  delator do mensalão deverá recorrer da mesma  artimanha utilizada pelo  ex-presidente Fernando Collor de Mello em seu  julgamento no Supremo, em  1994. O advogado do ex-deputado dirá que a  acusação não conseguiu provar  a existência do "ato de ofício", quando  há materialidade de que alguém  tirou proveito de uma suposta corrupção.
Confira a íntegra da entrevista:
Terra-  Sua defesa vai utilizar o mesmo argumento que livrou o  ex-presidente  Fernando Collor de uma condenação no Supremo. O senhor  realmente  acredita que não houve nenhum beneficiado com o mensalão?
  Roberto Jefferson - A defesa está perfeita. Está irretorquível. E tanto   ela se baseia no argumento do Collor, eu não sabia disso, você que  está  me dizendo, que ela é boa. Porque o Supremo absolveu por  unanimidade o  presidente Collor. A peça está no caminho certo.
- O senhor é acusado de corrupção passiva...
 Jefferson - Corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
- O senhor é inocente dos dois crimes?
  Jefferson - Isso é um absoluto absurdo. Primeiro, o dinheiro que  tratei,  os R$ 20 milhões, dos quais vieram R$ 4 milhões, eu não tratei  com  nenhum bandido. Foi com o presidente do PT e o chefe da Casa Civil.  O  dinheiro viria do PT para o PTB. Então, não tem lavagem de dinheiro.  E  era para eleição, não é corrupção passiva. Aí vem o MP dizer que  recebi  recursos para o meu partido para votar em favor do governo. É um  troço  assim raro. Mesmo porque tem a imaterialidade do meu voto, que é   inviolável. Quer dizer que o MP vai questionar o voto de cada  deputado? É  um negócio absurdamente estúpido. É uma vergonha o que está  sendo feito  pelo MP.
- E a acusação de lavagem de dinheiro?
  Jefferson - Entendo que é um absurdo. Não concordo com a acusação.  Lavar  dinheiro como? Eu teria que saber que o dinheiro que veio do PT  era  ilegal? O PT é uma organização criminosa ou um partido político   registrado, decente, correto, respeitado? Essa é a tese que meu advogado   vai colocar claramente para os ministros do Supremo.
-  Mas quando o senhor denunciou o esquema, deixou claro que  era uma  distribuição de dinheiro para parlamentares da base do governo. E  isso é  crime.
  Jefferson - Essa denúncia não foi feita em função da entrevista que eu   dei. Um ano antes de vir a público eu já havia falado, está nos autos. O   Miro Teixeira, o Ciro Gomes, todo mundo confirmou. Outros recebiam e  eu  tinha uma pressão louca sobre a minha bancada, que estava sendo   esvaziada. Os outros partidos chegavam e levavam meus deputados. Pagavam   luva e depois aquela mensalidade. Isso já era para ter explodido lá   atrás. Eu não sou o autor da denúncia. O Miro já havia dito, quando era   líder do governo. Ele falou ao Jornal do Brasil e depois deu uma   recuada, ele não quis enfrentar o conflito. Mas era uma pressão louca.   Eu chegava na liderança e dizia: "Aqui não! Aqui mando eu. Não vai ter   comando externo". E eu dizia isso. Falei ao Lula no início do ano de   2005. Depois repeti em abril: "presidente, esse troço vai dar errado.   Esses caras são loucos". Se eu disse isto a ele, seria o cúmulo da   desfaçatez eu aceitar para distribuir isso na bancada. E não tem segredo   de polichinelo nisso. Todo ministro ia saber. Tudo aqui é informado.  Se  vocês sabem, o governo sabe, todo mundo sabe. "O Roberto denunciou,  mas  pegou dinheiro aqui para dar para a bancada". Não existe isso. É um   absurdo me acusar de corrupção passiva porque me vendi ao PT para  votar  em plenário em favor do governo. É um absurdo dizer isso. O Lula  disse:  "Roberto deixa comigo". O erro dele foi não ter acreditado. Ele  tinha de  ter acreditado. Seria um absurdo. É uma coisa que não entra na  minha  cabeça. Eu entendo que o MP não poderia me deixar de fora por  causa da  coisa política da denúncia. Tem de colocar o Roberto junto.
- Mas o senhor sabia que outros partidos estavam recebendo dinheiro para serem cooptados...
 Jefferson - Claro, amigo...
-  De acordo com o que foi investigado pelo MP e pela Polícia  Federal  durante esses sete anos, o senhor acredita que o dinheiro tenha  saído  de empréstimos contraídos pelo PT ou que realmente tenha origem   pública?
  Jefferson - Eu não acredito em nada. Quem acusa, prova. O que eu disse   na minha acusação lá atrás é que era dinheiro do PT. Não disse que era   dinheiro público. Quem acusa tem que provar. Se o MP diz que é dinheiro   público tem de provar, não pode deduzir. O PT tem ampla  documentação   mostrando que eram recursos dele, o partido tem dinheiro, rapaz. Esse   ano, a arrecadação do PT já virou R$ 100 milhões. Tem dinheiro.
- E o senhor acreditava realmente que era dinheiro do partido?
  Jefferson - Claro que eu acreditava. Fui deputado 23 anos. Partido de   poder tem sempre recurso. Por isso que ele consegue montar as alianças.   Todo o partido de poder tem recursos. O PSDB tinha quando era poder. O   PMDB tinha.
- E isso acontecia também com esses partidos?
 Jefferson - Não o mensalão. Essa prática de Câmara de Vereadores e Assembleia Legislativa nunca houve no Congresso.
- Só existia naquela época ou o senhor acha que já houve em outro momento?
  Jefferson - Não sei, mas se houver é muito escondido, muito bem feito.   Hoje está todo mundo de olho aberto. Aqui no Congresso não há de jeito   nenhum. Com a Dilma? Pode esquecer.
-  O senhor foi cassado no Congresso com o argumento de que  mentiu aos  parlamentares e quebrou o decoro. O senhor concorda com esse  argumento?
  Jefferson - Uma coisa é a denúncia política. Não sou obrigado na   denúncia política a provar com as contas bancárias. Até porque não tenho   acesso a movimentação financeira. Se é uma coisa que está acontecendo,   eu posso denunciar. 
Mas  se tenho a responsabilidade de ouvir, de colocar  uma pessoa num  processo criminal, com uma denúncia, eu tenho de provar o  que estou  dizendo. A diferença para o promotor é que a denúncia  política pode ser  confrontada politicamente. A denúncia jurídica tem de  ter prova para  prosseguir. Essa é a grande diferença. 
Se  o promotor não  provou o problema é dele. Mesmo porque eu tenho horror  da judicialização  dos conflitos políticos. O poder não emana do povo e  dos seus  representantes eleitos. A Constituição está revogada. O poder  emana é do  concurso público. São os burocratas do MP que estão mandando  no país.
- O senhor teme ser preso?
 Jefferson - Eu não serei preso. Não serei. Não sei os outros réus. Minha convicção é com base no meu coração. Não serei preso.
Fonte: Portal Terra Radio Corredor